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Vai dar samba a política de ordem? (Veja)


Depois dos transtornos na Vila Madalena no ano passado, a prefeitura impõe restrições aos blocos.

Graças à concentração de bares descolados, a Vila Madalena acabou vítima da própria fama no Carnaval do ano passado. Rodeado por grandes blocos, que tomaram as ruas do bairro e das regiões vizinhas, como Sumaré e Pinheiros, o lugar se tornou o point oficial do antes, do durantee do depois dos desfiles. Nos horários de pico, chegou a reunir 150 000 pessoas. As cenas de descontração das tardes e noites, que são sua principal característica, foram substituídas por imagens decadentes: sujeira, brigas em toda esquina e até um "trenzinho de drogas", que ziguezagueou entre os presentes oferecendo maconha, cocaína, lança-perfume e LSD. Na madrugada da Terça-Feira Gorda, 17 de fevereiro, a Polícia Militar lançou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para mandar a multidão para casa. Um trauma que, para os comerciantes, não terminou na Quarta-Feira de Cinzas. "A clientela fiel ficou assustada e só voltou a frequentar o pedaço três meses depois", lembra Flávio Pires, da associação que representa o setor gastronômico local.

Na tentativa de pôr ordem na bagunça, a prefeitura determinou uma série de normas (veja no final da matéria) para os grupos que pretendem aproveitar o Carnaval. A principal medida: descentralizar a oferta de folia pela cidade. A ideia é que nenhum endereço carregue sozinho o peso do público (em 2015, os blocos atraíram cerca de 1,5 milhão de pessoas).

Os gigantes Sargento Pimenta e Bangalafumenga — que, juntos, arrastaram mais de 100 000 na Avenida Sumaré — tiveram de se deslocar. A partir deste ano, sairão na Praça Heróis da FEB, na Avenida Santos Dumont, em Santana, com previsão de arrebanhar 150 000 seguidores por dia. “A região da Vila não comporta mais o Banga e o Sargento”, reconhece Cesar Pacci, promotor dos dois grupos, que começaram em São Paulo na Rua Fidalga, em 2012. Eram 2 000 foliões e nenhum patrocínio. Neste ano, três empresas estamparão sua marca nos desfiles (Amstel, 99Taxis e 51 Ice).

Não haverá grandes desfiles nas ruas da Vila Madalena nem em vias importantes dos bairros vizinhos, como a Avenida Paulo VI e a Rua Teodoro Sampaio. Para espalhar a festa pelo mapa da cidade, o poder público aposta na promoção de shows em lugares diversos. Serão montados cinco palcos, com artistas ainda não definidos, no Largo da Batata, em Pinheiros, Anhangabaú, no Centro, e Praça do Forró, em São Miguel Paulista, além dos extremos das zonas Norte e Sul.

E quem garante que o caos não será “exportado” para essas outras regiões? “Pensamos em medidas para organizar os blocos, em especial a dispersão”, diz o secretário municipal de Cultura, Nabil Bonduki. Algumas delas: os trios elétricos terão no máximo 3 metros de altura, os ambulantes só poderão atuar se credenciados e todos precisarão encerrar o som até as 20 horas. Os cordões deverão se concentrar em três fins de semana: anterior, posterior ao Carnaval e durante a folia, entre 6 e 9 de fevereiro.

Mesmo assim, tudo indica que a diversão arrastará a multidão novamente. Neste ano, 360 blocos se inscreveram na prefeitura, contra 259 em 2015. Entre os bairros onde houve maior aumento da procura estão Vila Mariana (de oito para vinte) e Sé (de 69 para 99). A gestão municipal ainda analisará para quais cordões emitirá a autorização.

Moradora da Vila Madalena, a psicóloga Márcia Scazufca decidiu não pagar para ver. Viajará em todos os três fins de semana de folia para a casa dos pais, em Santos. “Melhor pegar trânsito na estrada do que ficar nessa balbúrdia.” O comerciante Tom Green, também residente no pedaço e fundador da Associação SOSsego Vila Madalena, acha que tudo caminha para a repetição do caos de 2015. “Não há definições claras sobre roteiros e horários da passagem de cada grupo”, afirma. A urbanista Lucila Lacreta, do Movimento Defenda São Paulo, faz coro. “A menos de um mês do Carnaval, não se sabe nem quantos blocos serão. Está tudo ao deus-dará”, preocupa-se

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